Kickboxing é muito mais que socos e chutes

Um dos treinos mais abrangentes quando o assunto é atividade física, o kickboxing combina exercícios de fortalecimento corporal e resistência cardiovascular, que atuam para aprimorar o equilíbrio, a coordenação e os reflexos. Entre diversas características, a prática tonifica a região das costas, estabiliza os músculos do ombro e exercita partes das pernas que seriam até mesmo pouco percebidas. Também desafia o praticante mental e fisicamente, fortalece o corpo contra lesões e mantém quem faz alerta. 

Prática tonifica as costas, além de estabilizar músculos do ombro e exercitar as pernas

Não é preciso necessariamente socar algo (ou arriscar ser socado) para colher os muitos benefícios da atividade, embora golpear um saco pesado certamente ajuda a liberar o estresse acumulado. Mesmo sem acesso a uma academia específica para a prática, o interessado pode incorporar o treino de kickboxing na rotina de exercícios. O equipamento necessário é mínimo.

Esse é um dos esportes mais difíceis – exige alto nível de agilidade, velocidade, força, resistência e habilidade técnica. O treino tradicional foi desenvolvido ao longo de séculos para preparar lutadores para as demandas de um embate, mas o kickboxing também pode ajudar aqueles que não são kickboxers a melhorar diversos aspectos que influenciam na promoção da saúde.

Isaías dos Santos, “o mestre Baiano”, e o filho Juan são exemplos de dedicação ao kickboxing

A oferta de aulas tem crescido, seja em academias de ginástica ou em ambientes exclusivos para a atividade, que agrega pessoas de todos os perfis. Uma aula tradicional geralmente começa com corda e treino de sombra, seguidos de exercícios que usam o saco pesado, o saco de dupla extremidade e a bola de velocidade. A conclusão geralmente se dá com exercícios corporais.

Para quem preferir fazer o exercício em casa, são muitos os recursos que podem orientar o treino, incluindo aulas digitais. Uma corda para pular e uma esteira são bons investimentos iniciais aos quais se pode adicionar um saco de pancada mais tarde, se a pessoa descobrir que realmente gosta de kickboxing. A primeira vez na prática pode ser cansativa. Mas, respeitando o próprio ritmo, o desenvolvimento é gradual. Com o tempo, novas habilidades são adquiridas a cada dia.

O personal trainer André Perucci, do app Personal Virtual, observa uma maior procura pelo esporte de 15 anos para cá, tanto em atendimentos  particulares como em academias. 

Entre os benefícios do kickboxing, ele elenca o favorecimento da cognição, a liberação de hormônios bons, a melhora da estética corporal e do condicionamento físico, com otimização de força e resistência, a perda de peso, diante do alto gasto calórico, e a influência positiva nas funções cardiorrespiratórias. “O kickboxing trabalha o corpo inteiro, membros inferiores e superiores, a partir dos exercícios específicos de luta, como socos e chutes, além da região do core, com ação no abdômen e a parte posterior, como a paravertebral e a lombar. De outro ponto de vista, a atividade aumenta a autoestima, alivia o estresse, e faz bem para a saúde como um todo”, aponta.

Faixa-preta 

Isaías dos Santos, de 48 anos, é professor de kickboxing desde 2002, depois que conquistou a faixa marrom, graduação na luta que permite dar aulas. Hoje faixa preta, que conquistou em 2008, é também conhecido como mestre Baiano, e acaba de abrir uma casa própria para ensinar o esporte, depois de atuar em outras academias em Belo Horizonte. Na Academia Baiano Kickboxing, inaugurada em dezembro de 2022, no Bairro Nova Suíça, ele tem 30 alunos, entre 4 e 55 anos, crianças, adolescentes, homens e mulheres.

A história de Isaías com o kickboxing é longa, e ele pretende até mesmo escrever um livro sobre essa trajetória. Conta que sempre gostou de lutas. Quando saiu da Bahia, aos 20 anos, para morar em BH, primeiro começou a praticar kung fu. Foi seu professor, que também dava aula de kickboxing, quem lhe apresentou a nova modalidade. Por cinco anos, praticou kung fu e kickboxing paralelamente, quando, depois de parar com a primeira atividade, se manteve no kickboxing, paixão até hoje.

No passo seguinte, Isaías passou a competir, o que fez durante oito anos, com lutas em BH e outras partes do país. Em 2007, então filiado à Confederação Brasileira de Kickboxing  (CBKB), e depois de ingressar em um curso de arbitragem, passou a ser juiz de lutas, dentro e fora do país, o que alavancou  a carreira como professor. “Fiquei de certa forma conhecido, abriu mais um espaço para mim no esporte”, diz Isaías, que tem títulos mineiros e brasileiros.

O atleta observa que o kickboxing vem ganhando popularidade no mundo. “Pouca gente sabe o que de fato é o esporte, o que significa na prática. Não é voltado só para competições. Quando a pessoa passa a conhecer, logo percebe os benefícios. Mas esse está longe de ser um esporte novo”, relata, ao salientar que as raízes do kickboxing remontam há mais de 2 mil anos. “A origem nos leva à Ásia, principalmente ao Japão, com a mistura entre o karatê e o boxe. Depois, o chute é agregado, levando à denominação ‘kick’. Do Japão, o esporte ganha espaço nos Estados Unidos, e a partir daí expande e conquista o mundo.”

Acessórios para prática de kickboxing

Corpo e mente

Atualmente, Isaías diz que não é difícil encontrar no Brasil espaços para treinar. Para ele, o importante é colocar o corpo e a mente para trabalhar – quando se trata de queima calórica, em uma hora de aula são queimadas entre 500 a 800 calorias, o que varia de pessoa para pessoa, conforme a resistência física.

O kickboxing, um exercício de explosão, é também uma técnica de defesa pessoal, e é importante procurar um professor que seja qualificado. “São diferentes tipos de aula. Às vezes, o aluno começa com o objetivo de perder peso, e não tem técnica. Com movimentos que  ajudam na consciência corporal, aos poucos vai adquirindo a técnica.”

Juan Camargos dos Santos é um dos filhos de Isaías. Aos 16 anos, já tem mais de uma década de dedicação, uma herança do pai. Desde menino, ainda aos três anos, lembra de ir com Isaías para as aulas de luta. Colocava a luva, batia no saco de pancada. “Achei ‘da hora’ e continuei”, diz Juan, que agora, já graduado com a faixa marrom, dá aulas na academia de Isaías – tem três turmas.

Ely Pereira tem o kickboxing em tatuagem na cabeça

Desde os sete anos, Juan participa de competições de kickboxing em eventos em Minas Gerais e outras localidades no Brasil. É tetracampeão mineiro, uma vez campeão brasileiro, tricampeão da Copa Divinópolis e uma vez campeão da Copa São Paulo de Tatame. Para ele, com o esporte, como todos os outros, aprende muito. Adquire disciplina e tem a oportunidade de conhecer pessoas incríveis. 

“Também gosto de transmitir o que eu sei e da inclusão. O kickboxing pode ser praticado por pessoas sem ou com deficiência, por exemplo. É um esporte democrático, que valoriza quem faz. É muito bom ter recebido tudo isso do meu pai”, relata Juan. Ele diz que uma das coisas mais sofridas em sua experiência com o kickboxing é a falta de patrocínio. “Mesmo assim, meu sonho é ser campeão mundial”, diz o jovem que pretende prestar vestibular para educação física.

fonte: https://www.em.com.br/app/noticia/saude-e-bem-viver/2023/07/16/interna_bem_viver,1519517/kickboxing-e-muito-mais-que-socos-e-chutes.shtml

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